Alerta foi feito por diretor do Instituto Pasteur, que defende novas pesquisas
MICHAEL DAY
New Scientist
LONDRES - As vacinas funcionam produzindo anticorpos, certo? Bem, provavelmente não. Idéias errôneas como essa aliadas à ignorância sobre como elas realmente funcionam estão emperrando o desenvolvimento de uma vacina contra a aids. Segundo especialistas, ninguém se incomodou em descobrir como agem vacinas bem-sucedidas como a da poliomielite, sarampo e hepatite B.
"Fico impressionado com a quantidade de informações científicas básicas que desconhecemos", afirma Philippe Kourilsky, diretor do Instituto Pasteur de Paris. "Desenvolvemos várias vacinas bem-sucedidas nas últimas décadas, mas perdemos a oportunidade de descobrir como elas funcionam", diz. "Cada vez que uma nova vacina se mostra eficaz, os cientistas simplesmente a entregam para o pessoal da saúde pública e vai estudar outra coisa; não investimos em pesquisa", explica. "Se tivéssemos pesquisado seu funcionamento a fundo, hoje estaríamos mais bem equipados para enfrentar o problema de uma vacina para a aids."
Enganos - A idéia de que as vacinas agem por meio da produção de anticorpos é enganosa, segundo Neal Nathanson, diretor do U.S.
Office of Aids Research. "A vacina contra a hepatite B é um ótimo exemplo, porque é altamente eficiente, mas ninguém sabe como funciona", afirma. A vacina provavelmente ativa um fator de proteção a partir das células T, mas ninguém sabe como ela faz isso ou como é esse processo, muito embora esteja em uso há quase dez anos. O mesmo vale para as vacinas contra a pólio, o sarampo e a varíola. Ruth Ruprecht, professora da Faculdade de Medicina de Harvard, diz que é difícil obter recursos para pesquisar vacinas que já existem. "Eles dizem: `Isso é velho, pesquisar para quê?'" Mesmo se os especialistas conseguissem preencher essas lacunas, ainda teriam outro obstáculo a enfrentar para desenvolver uma vacina contra a aids.
Segundo Ron Montelaro, da Universidade de Pittsburgh, mobilizar anticorpos contra o HIV pode fazer mais mal do que bem. Montelaro, que estuda um vírus semelhante ao HIV que atinge cavalos, conhecido como vírus da anemia infecciosa eqüina, diz que algumas vacinas desenvolvidas para esses animais acabaram por ajudar na disseminação do vírus, fazendo com que os cavalos morressem prematuramente. De acordo com ele, é possível que esses anticorpos tenham ajudado partículas de vírus a infectar novas células. "Essa é uma coisa em que as pessoas não querem pensar, mas está na hora de começar a levar esse risco em consideração."
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